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CinemaThomas Lá, Dá Cá

Thomas Lá, Dá Cá #2: Em Defesa de Pixels

Ah, a Internet. Guardiã eterna dos bons costumes, e ai de quem ousar questioná-la! Uma terrinha mágica onde as coisas tem o incrível poder de virar verdade absoluta num piscar de olhos. Experimente entrar numa rodinha de conversa e afirmar algo que vai contra aquilo que o universo virtual já estabeleceu como dogma e eu garanto que o resultado não vai ser muito agradável.

“Como assim você se amarrou no final de Lost? Não sabe que estava todo mundo morto?!”

“Não tem Breaking Bad e Game of Thrones entre suas séries favoritas? Alienado!”

“Se divertiu com Quarteto Fantástico? Não sabe nada de cinema!”

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“Desculpa filho, mesmo eu te falando que tudo que rolou na Ilha foi real, a internet decidiu que estava todo mundo morto o tempo inteiro”

Provavelmente, caso você tenha um pingo de personalidade, algo assim já deve ter acontecido com você.

Uma vez que a internet decide algo, expressar publicamente o senso comum se transforma num gerador instatâneo de curtidas e popularidade. Do outro lado da moeda, naturalmente, ir contra a corrente não te torna exatamente a pessoa mais popular da rodinha.

Embora o posto tenha sido usurpado recentemente pelo último filme da família fantástica da Marvel FOX, até pouco tempo atrás o título de campeão absoluto do ódio virtual era a comédia Pixels. Colecionando um número risível e surreal de críticas negativas (nesse segundo avaliado em 27% no Metacritic, e trágicos 17% no Rotten Tomatoes), o último filme de Adam Sandler foi vilipendiado pelos quatro cantos da Internet.

Mas será mesmo que ele é tão ruim assim? A resposta curta é “não”, mas imagino que você clicou nesse artigo esperando algo mais prolixo, então vamos lá.

Para começo de conversa, é preciso deixar claro que os últimos anos, com uma certa dose de justiça, não foram muito gentis com o bom e velho Sandman. O astro encontrou enorme sucesso e fama não só ao arrancar risos no Saturday Night Live, mas também no cinema, dominando os anos 1990 com produções hilárias e marcantes como Um Maluco no Golfe, O Rei da Água, Billy Madison e Afinado no Amor.

Com a chegada dos anos 2000, no entanto, sua produção ficou um tanto oscilante. Apesar de bons experimentos no mundo dramático, como no tocante Reine Sobre Mim e o experimental Embriagado de Amor, suas comédias perderam o pique. Gente Grande, Cada um tem a Gêmea que Merece, Este é o meu Garoto e Esposa de Mentirinha são apenas alguns exemplos de filmes que mal conseguem arrancar risos do espectador.

Então vamos partir desse ponto em nossa argumentação: Pixels é tão sem graça e ruim em seu roteiro quanto os filmes acima?

Não, nem perto.

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Houve um tempo em que Adam Sandler era tão legal quanto Billy Idol e… tá, talvez esse não seja o melhor argumento do mundo

Se Pixels está longe do brilhantismo dos primeiros trabalhos de Sandler, certamente está tão ou mais distante de seus maiores fracassos. Que Pixels tenha encontrado tanto ódio, quando tantas bombas passaram incólumes, é algo que merece nossa reflexão. E que provavelmente pode ser explicado por um exacerbado e incoerente senso de protecionismo dos novos nerds.

Não falo de você, camarada que cresceu jogando videogame, vendo bons filmes e séries e apreciando ótimas HQs, torcendo pelo dia em que mais gente partilharia seus hobbies favoritos pelo mundo.

Mas de você. É, você mesmo! Você que se acha dono das coisas que gosta. Que não aceita a ideia de que famílias inteiras podem ir ao cinema rir com o modo como personagens e jogadores de videogame são retratados na visão popular. Você, que fruto de uma extrema insegurança, se ofende pessoalmente ao ver um nerd pega-ninguém exposto na telona, pressupondo que a plateia está rindo não com você, mas de todo o seu modo de vida. Você… bom, que tal você crescer um pouco?

Porque, se você parar de birra, vai notar que, ainda que Pixels esteja bem longe da excelência cinematográfica, ele não faz nada diferente da sua Sessão da Tarde padrão. É a boa e velha comédia familiar de sempre, com todos os seus arquétipos e exageros tradicionais.

Dá para argumentar, claro, que essa fórmula tão antiga já dá sinais de cansaço. Talvez seja verdade. Como também é verdade que Pixels não está nem perto de ser um dos piores filmes do ano.

Ah, o que, você discorda? Bom pra você, mas que faça isso porque assistiu ao filme e julga ser uma crítica correta, mas não porque a internet te mandou pensar assim.

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