É incrível pensar que, em meio a diversas decepções, silêncios e falhas de campanhas de Kickstarter, em pleno 2017 a Yacht Club Games ainda honra o crowdfunding que ela realizou quatro anos atrás. Quem doou dinheiro à campanha ou comprou o jogo em seus primeiros anos, foi presenteado com diversos (e robustos) updates gratuitos, mas para quem ainda não o fez, a melhor opção é Shovel Knight: Treasure Trove, um compilado de tudo já lançado e que ainda está por vir, disponível em todos os consoles atuais, Steam, portáteis e, a partir dessa semana, Windows Store.
Homenageando o passado
Caso não conheça esse fenômeno indie, Shovel Knight é uma clara homenagem aos jogos da era 8-bit: com paleta de cor limitada, sons chiptune e diversas referências, o jogo é uma bomba (no melhor sentido da palavra) de nostalgia. No comando do titular Shovel Knight, o jogador deve desbravar fases temáticas nesse platformer 2D e derrotar o guerreiro ao final da fase. Utilizando-se de sua pá, o jogador pode cavar blocos de terra, atacar inimigos, rebater projeteis e, principalmente, quicar sobre inimigos ao pressionar o direcional para baixo (tal qual Tio Patinhas em DuckTales).
Em meio a tantos sucessores espirituais, Shovel Knight não tenta suceder algum jogo específico, mas sim celebrar uma era. Por isso, pega elementos de diversos jogos da época, como o sistema de chefes e a nomeclatura de Mega Man, o ataque da bengala de DuckTales, o mapa com encontro de inimigos do Mario Bros. 3, os itens de Castlevania e por aí vai. Mas ao invés de se tornar um pastiche, a Yatch Club faz Shovel Knight parecer um jogo perdido dos anos 80, devido aos personagens extremamente carismáticos, animações detalhadas e level design soberbo — tudo isso enquanto silenciosamente elimina frustrações desnecessárias do passado, como vidas e “Game Over.”
O primeiro grande update de Shovel Knight foi a campanha Plague of Shadows, que coloca o jogador no controle de um dos chefes da campanha original, o alquimista Plague Knight. No desenrolar de uma história que ocorre simultaneamente à de Shovel, o errático personagem tem à sua disposição um arsenal de bombas, com diversos fios, pólvoras e recipientes que adicionam diferentes propriedades aos explosivos. Com um pulo duplo que precisa ser carregado no ar, ataques que têm trajetórias específicas e uma mobilidade mais dura, Plague é definitivamente mais difícil de controlar que Shovel, portanto é uma boa pedida para aqueles que gostam de uma dose extra de desafio.
Enquanto Plague of Shadows mudou radicalmente as habilidades do jogador, mas manteve em grande parte o layout das fases enquanto contava uma história paralela, Specter of Torment segue uma direção diferente. Apesar de Specter Knight ainda se distanciar bastante do controle dos dois antecessores, o gameplay é bem mais simples que a constante mudança de partes dos explosivos que ocorre com Plague Knight e se assemelha ao gameplay intuitivo de Shovel, com uma camada extra de complexidade.
Podendo subir certas paredes, realizar wall-jumps e uma investida diagonal aérea (que pode ser para cima ou para baixo, dependendo do seu posicionamento em relação ao inimigo), Specter Knight é indubitavelmente mais ágil que Shovel e mais preciso que o caos de Plague. De certa forma, é como se Specter Knight estivesse para Shovel Knight tal qual Mega Man Zero está para o Mega Man original. A agilidade do personagem é intensificada pelo fato de que as fases não são pequenas alterações ou novas áreas da campanha original, e sim um quase completo redesign que tira vantagem das habilidades únicas de Specter enquanto ainda ecoa telas que já vimos antes.
Esse eco do passado é especialmente interessante pelo fato de Specter of Torment ser uma prequela de Shovel of Hope (o novo nome para a campanha de Shovel Knight). Aqui vemos Specter reunindo os diversos guerreiros para formar a Order of No. Quarter, convencendo-os a se aliar à Enchantress na base da porrada. E dentro dessa própria prequela, ainda temos flashbacks para o passado de Specter, ainda sob o nome Donovan, e a origem da vilã da franquia — tudo isso numa linda paleta de cores esverdeadas do Game Boy original, dando um ar ainda mais antigo.
Shovel Knight: Treasure Trove é um excelente pacote para qualquer fã de plataformer. Com uma pixel art soberba e cheia de carisma, gameplay diversificado graças aos múltiplos personagens e uma trilha sonora feita pelo já consagrado compositor indie Jake Kauffman, Shovel Knight deve servir de exemplo de como não devemos perder a fé no Kickstarter mesmo em meio a tantas desilusões. Ah, e adicione também nesse pacote os modos de desafios, de troca de sexo/gênero, New Game +, extras exclusivos para cada plataforma e o vindouro update que adicionará uma nova campanha (no controle de King Knight) e um modo multiplayer de luta local que trará todos os chefes de forma jogável. Com tudo isso em um único jogo, é difícil encontrar outro investimento tão bom do seu dinheiro.
Shovel Knight: Treasure Trove – Nota: 5/5
Desenvolvimento: Yacht Club Games
Plataformas: PC, PS4, XONE, PS3, WiiU, PS Vita, 3DS, OS X, Switch, Amazon Fire TV
Plataforma utilizada na análise: Nintendo Switch