O novo jogo dos maiores heróis da Marvel chegou com o lançamento de Marvel’s Avengers, um projeto ambicioso da Crystal Dynamics que prometia ser a experiência definitiva dos Vingadores. Mas será que a promessa foi cumprida?
Anunciado em 2017, Marvel’s Avengers — ainda sob o título Project Avengers — deixou os fãs extremamente animados. Com o inegável sucesso dos filmes da Marvel, era de se esperar que o grupo de super-heróis da editora de quadrinhos faria a transição para o mundo dos jogos.
Depois de viver experiências cinematográficas inesquecíveis como as vistas em Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato, era muito animadora a ideia de poder controlar personagens icônicos como Capitain America, Iron Man e Thor (e sim, os codinomes estão todos em inglês mesmo na dublagem em PT-BR, o que me incomodou bastante).
Agora, quase três anos depois de ser anunciado, Marvel’s Avengers já está disponível para PC, PS4 e Xbox One. Mas será que o projeto alcançou as expectativas?
Review: Marvel’s Avengers
Lançado no dia 4 de setembro, Marvel’s Avengers conta uma história totalmente inédita sobre os Maiores Heróis da Terra. Somos apresentados ao mundo do jogo sob a perspectiva da jovem Kamala Khan, uma escritora de fanfics e superfã dos Avengers.
Kamala foi selecionada como uma das finalistas de um concurso de fanfics e, por isso, foi convidada para participar do Dia-A, uma apresentação em São Francisco, onde veria de perto o super grupo de heróis que tanto idolatra.
Tudo parecia bem até que uma explosão na famosa ponte Golden Gate chama a atenção dos heróis, que logo percebem que não se tratava de um acidente. A ponte era, na verdade, uma distração para desviar a atenção dos heróis.
Enquanto o Taskmaster tocava o terror na ponte, o verdadeiro plano se desenrolava no Quimera, o porta-aviões da Shield e base dos Avengers, que transportava um componente conhecido como Terrígeno
Steve Rogers, o Capitain America, tenta salvar o dia mas acaba afundando no mar com o Quimera — que, no processo, libera uma nuvem de poeira do terrígeno e transforma milhares de pessoas em Inumanos.
Pouco depois os Avengers são acusados de causar todos os problemas vistos no Dia-A e se separam, encerrando as atividades super-heroicas do time. A AIM, uma empresa comandada pelo doutor George Tarleton e a cientista Monica Rappaccini, começa a pesquisar uma cura para a “doença” inumana e reparar os danos “causados pelos Avengers”.
Cinco anos depois, Kamala descobre um vídeo que pode não apenas absolver seus ídolos como também revelar um obscuro segredo relacionado à AIM.
Avante, Avengers!
Os eventos do Dia-A são o pontapé inicial para o modo campanha, que pode ser completado em aproximadamente 10h de jogo — mas também pode se estender por muito mais tempo. Acontece que além das missões principais, Marvel’s Avengers oferece uma porção de missões secundárias que rendem novos equipamentos, créditos e materiais de consumo usados para fazer upgrade e aumentar o nível de poder do seu time.
Não é nada difícil se pegar abandonando a linha da missão principal para localizar e vasculhar cofres secretos da SHIELD ou completar missões icônicas dos heróis, por exemplo. Afinal, essas missões secundárias garantem itens e pontos de experiência que podem fazer a diferença na jogatina.
Ganhar pontos de experiência faz subir a barra de nível do seu personagem, que recebe um ponto de habilidade sempre que sobe de nível. Com esses pontos você desbloqueia habilidades de ataque, defesa e suporte, além de fortalecer suas habilidades heroicas e até mesmo conceder alguns efeitos extras de maestria.
Desbloquear habilidades é essencial para tirar o máximo proveito de cada personagem, que têm estilos de jogabilidade únicos. Você poderia imaginar que o Thor e o Iron Man teriam estilos parecidos, por poderem voar e causar dano com raios e lasers, mas os personagens são bastante diferentes e você consegue sentir isso ao jogar como cada um deles.
Neste ponto a Crystal Dynamics acertou em cheio: cada personagem é realmente único. Quando jogando com o Hulk dá pra sentir o poder e a força destrutiva do gigante esmeralda; já a Black Widow, por exemplo, se aproveita de sua agilidade e armas de fogo para causar dano rápido e certeiro; enquanto isso, o Capitain America usa seu escudo para atordoar inimigos, atacá-los (de longe e de perto) e defender-se.
Cada personagem tem seus prós e contras, cabendo ao jogador decidir qual deles melhor se encaixa ao seu estilo de jogo, e descobrimos isto ao longo da campanha principal, que nos põe na pele de cada um deles.
Embora Kamala seja claramente a protagonista do jogo, Marvel’s Avengers deixa a maioria dos Vingadores ter seu próprio momento para brilhar, dando aos jogadores a oportunidade de testar cada um deles na campanha antes de começar o verdadeiro modo principal do jogo.
A Iniciativa Avengers
Não é segredo que Marvel’s Avengers tem forte apelo multiplayer. No ano passado, quando vimos as primeiras informações concretas sobre o game, descobrimos que a cereja do bolo do jogo seria justamente permitir a você se unir a mais três jogadores, cada um no controle de um personagem, para concluir missões ao redor do globo.
Embora tenha uma campanha single player bastante sólida, com uma trama inédita e momentos memoráveis, o objetivo da Square Enix e da Crystal Dynamics com Marvel’s Avengers é manter o jogo vivo por anos a fio, seguindo a tendência dos jogos como serviços.
Ou seja, mesmo depois de completar a campanha principal, você vai ter infinitas horas de jogo para curtir ao lado de amigos online ou preenchendo o grupo com personagens controlados pela inteligência artificial.
As missões são acessadas na Mesa de Estratégia, e cada uma delas tem um nível de poder recomendado, que pode ser aumentado ou diminuído ao selecionar o nível de dificuldade. Completar missões frequentemente é importante para subir de nível e conseguir novos equipamentos de poder mais alto para aumentar o poder do personagem.
É possível selecionar missões na Mesa de Estratégia, podendo escolher entre diferentes setores como o Litoral Leste ou as Badlands de Utah, além de viajar para bases que servem como hubs, onde você pode comprar equipamentos, selecionar os heróis do seu time, desbloquear e comprar itens, além de aceitar missões de facções.
No momento estão disponíveis dois hubs: o Quimera, o porta-aviões onde é possível ter acesso a missões de facção da SHIELD; e a base no deserto liderada pelo ex-Homem Formiga, Hank Pym, onde é possível acessar missões da facção dos Inumanos. Um terceiro hub deve chega ao jogo em breve, e será liderado por Maria Hill, diretora interina da SHIELD.
Embora a ideia de ter um jogo “infinito”, capaz de proporcionar horas e mais horas de diversão ao longo de anos, possa parecer interessante, é aqui que Marvel’s Avengers mais peca.
Longe da perfeição
A necessidade de jogar constantemente para conseguir experiência e itens mais fortes tem um efeito bastante negativo. Deixe-me explicar melhor: digamos que você decida focar em pegar o nível máximo como Thor no modo Iniciativa Avengers. Chegar ao nível 50, que é o nível mais alto neste momento, não significa que seu Thor automaticamente terá o poder máximo.
Nível e poder são coisas bastante distintas em Marvel’s Avengers. Um herói no nível 50 pode ter poder mais baixo que um herói de nível 40, já que o poder é extremamente dependente dos seus equipamentos e artefatos. Estes itens são encontrados ao longo das missões, além de também serem recompensas de linhas de missões e missões de facção (SHIELD e Inumanos).
Os equipamento têm diferentes raridades, podendo ainda ser aprimorados para desbloquear alguns bônus e aumentar seu nível de poder. Desta forma, um bracelete lendário de poder 20 e com um bônus pode ser aprimorado para o poder 30 e desbloquear mais dois bônus extras, por exemplo. Quanto maior o poder dos seus equipamentos e artefatos, maior será o poder total do seu personagem.
Por isso, é importantíssimo coletar equipamentos e artefatos. O problema é que qualquer item coletado torna-se completamente obsoleto depois de duas ou três missões, já que a tendência é que seu poder aumente sempre que passar de nível ou equipar equipamentos novos. Isto torna o procedimento de upgrade em equipamentos de nível baixo completamente obsoleto e sem sentido. A menos que você já esteja no nível 50, não faz sentido aprimorar equipamentos.
Como expliquei, para aumentar seu poder seu poder é preciso equipar equipamentos mais fortes. E para conseguir estes equipamentos é preciso completar missões. Só que Marvel’s Avengers acabou de sair e, bem, não existe tanta variedade de missões para jogar. Seus objetivos serão na maioria das vezes derrotar todos os inimigos de uma área, defender um local por um determinado período de tempo ou destruir objetos marcados no mapa.
Há missões diferentes, como vasculhar esconderijos da SHIELD e derrotar clones dos chefões, por exemplo, mas mesmo estas missões se tornam repetitivas e sem graça em pouco tempo. Enquanto no modo campanha cada batalha de chefe requer estratégia, no modo online basta juntar o time todo e descer a porrada no adversário sem dó até derrotá-lo. E isso é muito chato.
Bugs e otimização
Como já era esperado, Marvel’s Avengers chegou ao mercado bastante quebrado. Não tão quebrado quanto a versão beta, liberada algumas semanas antes do lançamento do jogo, mas ainda assim cheio de problemas.
Testei o jogo no Xbox One original, o hardware mais fraco para o qual o jogo foi lançado. Embora tenha conseguido jogar toda a campanha e horas e mais horas de missões principais e o modo Iniciativa Avengers, preciso apontar que o jogo foi muito mal otimizado.
E essa otimização não vale só para o pobre Xbox One. Há relatos de problemas de desempenho em todas as plataformas para as quais o game foi lançado. Nem mesmo os poderosos Xbox One X e PlayStation 4 Pro saíram ilesos, com quedas frequentes de FPS, texturas com carregamento lento, loading infinito e por aí vai.
Além disso, os bugs realmente incomodam. Não é raro se deparar com objetivos que não podem ser completados, inimigos invencíveis, personagens atravessando paredes e ficando presos no cenário, travamentos etc.
Um jogo que tem loadings demoradíssimos e bugs que muitas vezes te obrigam a reiniciar o game ou o último checkpoint — precisando passar por várias telas de carregamento de novo e de novo — irrita demais qualquer jogador.
No começo pode ser que você não se sinta tão incomodado, mas depois da vigésima vez ficando preso em um loading infinito, travando no cenário ou ficando impossibilitado de completar um objetivo por conta de bugs a história muda e você se vê cada vez menos animado para jogar.
Passe de Batalha?
Como todo bom jogo como serviço, Marvel’s Avengers conta com um sistema de Passe de Batalha. Intitulado Carta de Desafio, o sistema funciona da seguinte maneira: diariamente você recebe dois desafios que concedem 3 pontos cada. Além disso, a cada semana você recebe dois desafios que rendem 11 pontos cada.
Cada desafio tem um objetivo específico, como derrotar um determinado numero de inimigos usando um ataque específico, abrir um certo número de cofres ou jogar missões. Para subir um nível na sua Carta de Desafio é preciso completar esses objetivos e receber os pontos. A cada 5 pontos você sobe um nível da Carta, desbloqueando itens cosméticos, gestos, créditos etc.
Cada personagem tem sua própria Carta de Desafios, e todos os heróis disponíveis no lançamento do jogo têm Cartas de Desafio gratuitas. Sim, você pode desbloquear o Passe de Batalha do Capitain America, Thor, Iron Man, Black Widow, Hulk e Kamala Khan sem precisar gastar dinheiro extra.
Quer uma notícia ainda melhor? Na verdade você não vai precisar gastar dinheiro extra com nenhum herói novo. Diferente do que muita gente está pensando ou noticiando por aí, não será necessário comprar novos heróis. Todos estarão disponíveis gratuitamente para os jogadores.
Esses novos heróis terão Cartas de Desafios próprias, e estas sim serão “pagas”. Cada Carta de herói novo vai custar 1000 moedas, sendo que essas moedas, adivinhe só, você ganha jogando. Isso mesmo, não será necessário pagar dinheiro real para desbloquear cosméticos para a Kate Bishop ou para o Homem-Aranha (este último exclusivo do PlayStation), por exemplo, quando chegarem ao jogo. Basta jogar e avançar no passe dos personagens já disponíveis no jogo.
Cada Carta de Herói dá aos jogadores até 1000 moedas, que podem ser usadas para comprar novos passes ou acelerar o passe de algum outro personagem. Essas moedas também podem ser compradas com dinheiro real, mas isso é totalmente opcional. Não precisa se desesperar ou amaldiçoar a Square Enix, basta ser inteligente e usar suas moedas com sabedoria.
O futuro de Marvel’s Avengers
Mesmo com todos os problemas listados até agora neste review, é importante observar que o futuro de Marvel’s Avengers parece brilhante.
A ideia de lançar novas linhas narrativas com a adição constante de novos heróis, cada um com conjuntos de habilidades e itens cosméticos exclusivos, além de novas áreas e bases com missões e histórias inéditas tem o potencial de manter o jogo relevante por bastante tempo.
Além disso, justamente por se tratar de um game em constante desenvolvimento, a tendência é que os problemas de otimização e bugs sejam corrigidos ao longo do tempo, quando forem lançados novos patches de correção, manutenção e atualização.
É provável que a situação mude no médio prazo, tornando a experiência de Marvel’s Avengers mais imersiva e divertida com o passar do tempo. Peso e relevância o game já tem só por carregar Marvel e Avengers no título. Já se o jogo vai ser um sucesso ou fracasso ao longo dos anos só depende das partes envolvidas no desenvolvimento do game.
Marvel’s Avengers foi desenvolvido pela Crystal Dynamics, publicado pela Square Enix e tem versões para PC, PS4/PS4 Pro e Xbox One/Xbox One X. Versões para a nova geração devem chegar no final do ano, com o lançamento do PS5 e do Xbox One Series X/S.