Máquinas de fliperama na entrada da sala de cinema, experiência 4DX (aquelas poltronas que se mexem com direito a raios de luz perto da tela e jatos de ar na cabeça), pipoca (e com manteiga, YAY!), uma ideia criativa para o filme… Mas nada disso adiantou. Apostei todas as minhas fichas e Pixels não se tornou um clássico da categoria.
Pixels mostra como Brenner (Adam Sandler), um homem que trabalha instalando videogames, se tornou a única opção do presidente dos EUA (Kevin James) capaz de salvar o mundo de ataques alienígenas que caem do céu em formato de jogo clássico: Galaga, Centípede, PAC-MAN etc.
Como uma bela máquina de fliperama, os alienígenas montam três partidas contra a Terra. Se perder nessa melhor de três, a Terra será aniquilada. Brenner era viciado em arcades nos anos 80, chegando a vencer vários adversários e ter posição de destaque no primeiro Campeonato Mundial de Fliperama de 1982! Ninguém estava mais preparado do que ele.
O filme começa muito bem com a música contagiante do Cheap Trick – Surrender. O clima de anos 80 é representado com muita fidelidade em todos os detalhes! Em poucos instantes, a identificação com os personagens principais acontece e você começa a jogar o jogo proposto pelo filme. Muita adrenalina e barris de Donkey Kong envolvidos, não poderia ser diferente.
O primeiro checkpoint é a transição entre os anos 80 e 2015, discreta e certeira. Desse ponto em diante, o objetivo do filme, apesar de claro, foi se perdendo aos poucos. Houve até uma reflexão interessante sobre a principal diferença entre o funcionamento dos jogos arcades e dos jogos atuais, como The Last Of Us. Entretanto, os jogos deixam de ser os protagonistas e viram meros panos de fundo. É o efeito hollywoodiano: todo o conteúdo deixa de ser explorado para dar destaque aos atores do elenco. Só que nem a atuação deles convence, não dá para acreditar que seus personagens são os nerds mais importantes e especialistas do mundo naquele momento — nem mesmo Peter Dinklage que fez o personagem Fire Blaster e também atua em Game Of Thrones. O único que chegou perto de ser um autêntico gamer foi Ludlow (Josh Gad), o Garoto-Prodígio. E a participação épica de Tōru Iwatani, criador de PAC-MAN, é de tirar o fôlego de tão emocionante!
O ápice do filme é a cena do ataque Centípede. Ela foi a mais bem resolvida de todas e inseriu de fato o espectador dentro da atmosfera do filme, e foi tão boa que teve até Nível 2! Deu até vontade de procurar um simulador por perto e jogar enquanto Pixels continuava rolando na telona.
De uma forma geral, os efeitos especiais são bons, a trilha sonora é estrategicamente pensada pra funcionar (e funciona!) e o nível de humor não é dosado como sempre deve ser. Ou a piada é clichê demais, ou é feita no momento certo e de forma efetiva. E no meio de tudo isso, 21 jogos aparecem no filme (além dos já citados, Breakout, Missel Comando, Asteroids, Smurfs, Paper Boy, Joust, Arknoid, Q*Bert, Tetris, Duck Hunt, Dig Dug, Defender, Wizard of Wor, Frogger, Burguer Time, Robotron etc). Temos até mesmo uma aparição relâmpago de 3 ou 4 segundos de um rapazinho baixinho de roupa vermelha que gosta de cogumelos na época em que ainda não tinha seu próprio jogo.
O diretor Chris Columbus tem em seu currículo filmes como Gremlins (1984), Os Goonies (1985), Esqueceram de Mim (1990) e Uma Babá Quase Perfeita (1993). Nos anos 2000, dirigiu três filmes da franquia Harry Potter e conquistou de vez seu lugar cativo na calçada da fama. Baseado em sua biografia, decidiu seguir a linha de “filmes-de-TV-aberta-para-assistir-à-tarde”, perdendo a oportunidade de transformar Pixels em um grande título da sétima arte.
Ainda bem que não apareceu um “Continue?” com contagem regressiva na tela.
P.S.: não precisa ficar na sala de cinema quando a história acabar, o filme não possui cena pós-créditos.