A adolescência é mesmo um período complicado da vida. Ao nos aproximarmos da idade adulta logo chegam todas aquelas questões existenciais complexas, a pressão da sociedade parece gigantesca, e pra piorar ainda temos todos aqueles dramas pessoais, romances explosivos e… um mundo paralelo cheio de demônios para nos atormentar? Ok, talvez só em Persona você encontre tudo isso junto, e é justamente o que o torna tão especial.
Persona 5 honra a tradição da série e mostra um grupo de jovens subitamente inseridos em uma realidade muito maior do que sua compreensão, na qual descobrem novos poderes e ameaças sobrenaturais, atuando como linha de defesa para nosso plano de existência. Como o título deste texto deve ter deixado claro, a ideia é incrivelmente efetiva e forma uma narrativa instigante.
Rebelde com causa
Quando conhecemos o novo protagonista da série, ele já está liderando uma equipe de ladrões justiceiros em toda a sua glória, mas nem sempre as coisas foram assim. Antes de virar um mestre das Personas, nosso herói era apenas um estudante comum tentando viver uma vida honesta e deixar seu passado conturbado para trás.
Só que basta pisar em sua nova escola para as coisas saírem de controle, revelando estudantes atormentados e professores abusivos. Entre gatos falantes e incursões a um universo espelhado pelas ambições mais sombrias das pessoas, o único modo de salvar a escola e seus colegas é eliminar o problema direto na fonte, visitando os “Palácios” que abrigam esses sentimentos negativos.
Assim, o jogo se divide entre a exploração de labirintos repletos de inimigos criativos e a gestão de sua vida de estudante, construindo relacionamentos e se divertindo com toneladas de atividades paralelas, como… jogar muito videogame, por exemplo. Persona 5 sabe mesmo como recriar fielmente a vida dos jovens!
Matando (na) aula
As primeiras horas de jogo não são tão agitadas quando comparadas às outras quase 100 horas de campanha eletrizante, mas passam voando graças ao excelente roteiro, decisões de design e otimização quase perfeita do game. Há muita coisa para se aprender no elaborado sistema de gameplay de Persona, mas tudo é apresentado com calma e de forma elegante.
Nos primeiros dias de jornada é comum perambular bastante por Tóquio, navegando por seu metrô, casas e lojas, além da própria escola. Felizmente os loadings são bem curtos e ligeiros, o que facilita imensamente a constante perambulação pelos cenários.
Os primeiros inimigos e calabouços surgem a conta-gotas, sempre ensinando algo novo no processo. Como de praxe, as batalhas são realizadas por turnos e permitem partir para a ofensiva com diferentes táticas e movimentos, desde ataques físicos a invocações de Personas poderosas, que consome energia ou sua barra de especial. Há várias formas de abater os rivais, inclusive barganhar com eles quando sua vida estiver no limite, ganhando itens ou dinheiro em troca de poupar sua vida.
Conforme subimos de nível e conquistamos novos aliados e poderes, novas habilidades táticas são habilitadas, inclusive a fusão de Personas para criar golpes especiais ainda mais poderosos. Como não existe professor melhor do que a prática, lute com atenção e evite pular os diálogos para aprender todo o rico e gratificante sistema de combate. Vale a pena se aprofundar, já que os controles e mundo são tão ricos quanto gratificantes.
Julgue o livro pela capa
Da mesma forma, também vale a pena tirar alguns minutos para contemplar o excelente trabalho artístico de Persona 5. Seja no PlayStation 4 ou 3, sua direção de arte é tão fantástica que, ocasionalmente, o jogo mais parece um anime rodando no Crunchyroll do que qualquer outra coisa. Não existe jogo com melhor apresentação nesta geração!
O uso de cores é muito esperto, ajudando a transmitir perfeitamente a atmosfera, clima e emoções pelas quais os personagens estão passando, além de contextualizar perfeitamente cada um dos diferentes mundos e Palácios do game. Como cereja do bolo, Shigenori Soejima continua concebendo os personagens com design mais incrível que você possa desejar. É quase impossível jogar algumas horas e não se apaixonar por alguns dos heróis.
Além de ser um colírio para os olhos, Persona 5 também proporciona uma grande jornada sonora. Flertando bastante com Acid Jazz, mas também pegando muitos elementos pop emprestados, sempre com eletrizantes linhas de baixo pontuando seus grandes momentos, a trilha sonora é daquelas que continuarão bombando em sua tracklist mesmo anos após o jogo ser zerado.
A vida vai mudar
Nesses tempos em que a sociedade parece pisar em ovos ao tentar dialogar sobre temas mais complexos, Persona 5 é um grato sopro de ar fresco e de inteligência, expondo sem pudores vários temas que muitos considerariam tabu. Sexo, drogas, violência e até pedofilia são incluídos na trama não como ferramentas apelativas, mas sim como instrumento para a construção de metáforas inteligentes, ajudando a transmitir a mensagem sobre como os jovens podem ser a força motriz das mudanças na sociedade.
Complexo, profundo e desafiador na medida exata, Persona 5 é um daqueles raros jogos que conseguem (re)definir completamente um gênero. Da mesma forma que The Legend of Zelda Breath of the Wild estabeleceu um novo paradigma para os jogos de mundo aberto, Persona 5 aponta um novo e brilhante caminho para os JRPG. O que você está esperando para se unir ao bando?!
Persona 5 – Nota: 5/5
Produtora: Atlus
Plataformas: PlayStation 4, PlayStation 3
Plataforma utilizada na análise: PlayStation 4