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Into the Woods é um musical totalmente perdido

Os contos de fadas nem sempre são o que parecem. Se você cresceu com as belas animações da Disney, pode até achar que as histórias originais da Rapunzel, Cinderela e João e o Pé de Feijão eram só alegria e aquele “felizes para sempre”, mas não é bem assim.

Na literatura, a maioria delas foi escrita ou adaptada pelos Irmãos Grimm com toques de brutalidade e tristeza a fim de chocar e educar as crianças. Só que não são seus contos que servem de base para Caminhos da Floresta, mas sim o musical Into The Woods. No espetáculo que estourou na Broadway em 1987 descobrimos o que aconteceria se personagens clássicos dos contos de fada se encontrassem em uma floresta misteriosa antes e depois de seus “felizes para sempre”, uma premissa bastante interessante, mas que chega ao cinema sofrendo de uma certa bipolaridade.

Escrita por James Lapine, a trama mais parece um remendo de rascunhos feitos a várias mãos, e certamente poderia se beneficiar de alguma edição. Ao longo de cansativas e corridas duas horas acompanhamos um Padeiro (o divertidíssimo e talentoso James Corden) e sua Esposa (Emily Blunt, ótima e ganhando cada vez mais destaque em grandes filmes) em sua viagem pela floresta para quebrar a maldição da Bruxa (a novamente indicada ao Oscar Meryl Streep) e, finalmente, poder conceber um filho.

Só que eles não são os únicos que tiraram o dia para passear no bosque. Cinderella (Anna Kendrick), Chapéuzinho Vermelho (Lilla Crawfrod), João (Daniel Huttlestone) e Rapunzel (MacKenzie Mauzy) também estão por lá em suas próprias jornadas pessoais para entregar cestas à vovozinha e vender vacas premiadas.

No começo é -quase- tudo alegria. Os personagens cantam animados sobre suas desventuras e o filme parece uma Sessão da Tarde das mais bobinhas e inofensivas. Há dicas aqui e ali sobre o que está por vir, claro, como a interessante cena em que o Lobo Mau ganha ares de pedofilia no subtexto muito bem entregue por Johnny Depp, mas isso não evita o choque posterior.

Afinal, na hora final de filme há infidelidade, mortes gratuitas e punições exacerbadas o bastante para deixar qualquer pai mais zeloso um tanto arrependido de ter levado as crianças ao cinema, já pensando no quanto de explicações terá que dar quando chegar em casa.

Além de não funcionar em tom e contexto, esses momentos de temática adulta são bastante anti climáticos e falham tanto na mensagem como em ritmo, mais parecendo mortes e fins gratuitos, deixando vários arcos mal resolvidos.

Uma pena, pois há ideais interessantes que definitivamente poderiam – deveriam! – ser melhor exploradas. Crianças e adultos certamente sairiam do cinema mais satisfeitas se temas como “ninguém está sozinho no mundo” e “somos todos humanos e falhos, até os personagens de contos de fada” recebessem o tratamento adequado.

Nem as músicas ajudam – o que possivelmente é o maior pecado para um filme musical. Tirando duas ou três grandes cenas, como o divertido e hilário duelo de masculinidade entre os Príncipes Encantados de Chris Pine e Billy Magnussem, e a ótima música Last Midnight, em mais um show de performance da Meryl Streep, pouco se salva.

Bobo demais para empolgar os adultos, porém chocante em demasia para ser compreendida pelas crianças, Caminhos da Floresta definitivamente não vai te deixar “feliz para sempre”.

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