DoReMi Fantasy é o título de estreia de uma série de análises que faremos, onde o foco estará nos jogos mais underground dos consoles retrô. A ideia é mostrar o quanto de cada sistema nós deixamos de curtir (ou pelo menos a maioria de nós) pelos mais diversos motivos, desde a má divulgação até a ausência de localização no ocidente. Algumas vezes nos prendemos aos medalhões e deixamos de apreciar algumas pérolas, que só chegaram até nós com o advento da internet.
DoReMi Fantasy: Milon no Dokidoki Daibouken é um game de plataforma lançado pela Hudson em 1996, para Super Famicom. Sem ter sido localizado para nós ocidentais, ficou esquecido até 2008, quando foi portado para o Virtual Console do Wii. Quando pensamos em jogos do gênero lançados na década de 90, é imediato lembrar de Super Mario World e Donkey Kong Country, dois dos maiores ícones de sua geração. Contudo, um trabalho mais forte de divulgação por aqui e talvez Milon tivesse um destino melhor. Quem sabe?
Sete (divertidos) mundos
Na viagem pelos sete mundos de DoReMi, nos deparamos com a fase da floresta, a fase do gelo, do fogo e outros clichês de jogos de plataforma. Mas isso é tudo o que tenho para falar sobre ausência de originalidade, já que todo o resto é encantador, surpreendente e novo. Certos caprichos na concepção das fases deixam o jogo muito mais interessante. Quer exemplos? Em uma das fases, temos de enfrentar uma forte ventania seguida de raios, com alteração na mecânica de movimentação. Noutra, descobrimos que para chegar até o topo da tela, precisamos ser alavancados pela explosão de uma garrafa de champanhe! São detalhes pequenos, mas que dão maior profundidade ao game. Nos deixa cientes de que estamos diante de um jogo diferente e mais bem trabalhado, seja em seu nível de dificuldade crescente ou nos elementos dispostos por todos os cenários.
Milon no Dokidoki Daibouken é continuação de Milon’s Secret Castle, lançado para Nes ainda na década de 80. Em comum, apenas o gênero plataforma e a presença do pequeno Milon, que mais se parece com o nosso velho conhecido Herói do Tempo, principalmente quando está vestindo a sua túnica verde. Enquanto Secret Castle tem ares sombrios e vive de ambientes fechados, Dokidoki Daibouken é radiante, com fases em paisagens naturais. Além disso, sua progressão também acontece de forma mais livre, de modo que você sempre sabe o que fazer ou para onde ir, bastando uma rápida olhada pelo cenário ao redor.

Para derrotar seus inimigos, Milon usa bolhas de sabão (que cândido, não?), aprisionando-os. Depois, basta encostar na bolha pra que os inimigos sumam. Pular em suas cabeças apenas os paralisa, sem matá-los. Em alguns casos, dar uma de Mario pode ser a melhor alternativa, principalmente para usar os adversários como plataforma e atingir partes mais altas das fases. Como dito anteriormente, tudo de forma intuitiva e veloz. Os saltos são precisos, quase cirúrgicos. Se você quer estar na plataforma X, basta dar um salto e você estará lá, sem nenhum problema com a mecânica, peso ou controles travados. Durante a aventura, inclusive, você consegue uma bota que lhe concede a capacidade de planar! Meus amigos, com muita sinceridade eu posso afirmar que não vão querer outra coisa.
Simples e cativante
O pano de fundo por trás disso tudo é muito simples: A fada Alis, amiga de Milon, foi sequestrada pelo maléfico Amon. Para resgatá-la, precisamos recuperar os cinco instrumentos musicais mágicos (Dó Ré Mi, Música, Oi?) e desfazer as maldições impostas pelo vilão. A cada mundo percorrido, um item é desbloqueado. E ainda na vibe musical, os coletáveis pelos percursos são notas musicais, saindo um pouco das manjadas argolas, moedas, bananas e afins.
Os gráficos são divertidos e coloridos, com sprites bem desenhados e cenários caprichados, tanto em seu layout quanto em seus elementos decorativos. Mesmo que algumas fases pareçam repetidas, os desafios espalhados por cada uma delas o lembrarão a todo momento que não se trata da mesma fase: inimigos diferentes, fases com progressão vertical e horizontal, blocos para quebrar, elementos para interagir. Tudo criado para divertir sem enjoar, indo muito além de um simples desafio de pular de bloco em bloco.
A trilha sonora composta por Jun Chikuma encanta desde o começo, saindo um pouco das musiquinhas manjadas de títulos do gênero. Músicas ora divertidas, ora sombrias, todas envolventes e bem trabalhadas. Chikuma, diga-se de passagem, assina a OST de outros games famosos como a série Bomberman e o primeiro Adventure’s Island. Já que o game aposta na vibe musical, nada mais justo que ter uma trilha sonora de qualidade, não é mesmo?
As fases iniciais são muito simples, talvez com o intuito de apresentar o jogo e suas mecânicas, principalmente para os mais jovens, claramente visados na concepção de Dokidoki Daibouken. Mario, Donkey Kong, e tantos outros títulos de plataforma desde a geração 8 bits já haviam se encarregado disso, então começar com o pé no acelerador e incrementar um pouco a dificuldade inicial seria justificável. É um ponto negativo? Sim. Vai afastá-lo do game? Esperamos do fundo das nossas almas que não, ou você estará perdendo uma aventura bonita, bem elaborada e divertida de se jogar. E digo mais: se me entregassem DoReMi como um título atual desenvolvido por alguma empresa indie, eu compraria a ideia de primeira, sem pestanejar.
Milon e seus amigos não tiveram a mesma sorte de outros mascotes da época, o que é uma pena. Os anos 90 teriam sido mais coloridos e musicais se essa belezura tivesse sido melhor divulgada, principalmente do lado de cá do globo. Para consertar essa e outras mancadas do mundo dos games, só acompanhando o PlayReplay e esperando pela próxima aventura desconhecida. Qual será? Quem viver, verá!