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Cinema e TVCríticas

A Entrevista é tão polêmico quanto hilário

A não ser que você esteja vivendo em um país governado por uma ditadura que corta até seu acesso à internet, apostamos que você deve ter lido bastante sobre a polêmica envolvendo o filme A Entrevista. O governo norte coreano ficou inconformado com a sátira que Seth Rogen e Evan Goldberg escreveram sobre seu país, o que levou a uma grande tensão entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.

A Sony chegou a cancelar o lançamento do filme nos cinemas, mas nem isso impediu que a companhia fosse alvo de ataques hacker. Felizmente, o longa encontrou notoriedade através das principais plataformas digitais do mercado, além de versões em DVD e Blu-Ray. Seria um exagero tamanha repercussão e estrago graças a um simples filme? Possivelmente, mas não dá pra negar que a comédia toca em muitos assuntos delicados e, com isso, acaba levantando aquele velho debate sobre até onde vão os limites do humor – se é que existem.

Seja lá qual for sua visão sobre o assunto, é bom estar preparado, pois há bastante material ofensivo em A Entrevista. Absolutamente ninguém está livre de ser alvo de piadas por aqui, então se você faz parte da patrulha politicamente correta ou é um justiceiro social que bate ponto no mural do Facebook advogando pelas causas alheias, é melhor passar longe do filme.

Por outro lado, se você sabe apreciar uma boa dose de humor negro, certamente há conteúdo o suficiente para você não só rolar de rir, mas também pensar um pouco com as críticas sociais e políticas certeiras da obra.

Quanto o apresentador Dave Skylard (James Franco, brilhante e roubando todas as cenas em que aparece) e seu produtor Aaron Rapoport (Seth Rogem, sempre engraçado) descobrem que o ditador Kim Jong-un (um impecável Randall Park) é fã de seu programa sensacionalista “Skylark Tonight”, logo enxergam a oportunidade de levar sua audiência às alturas com uma entrevista exclusiva. Só que a CIA, através da agente Lacey (Lizzy Caplan), aproveita para transformar a viagem da dupla à Pyongyang em uma missão de assassinato, a fim de libertar o mundo da tirania de Kim.

O grande trunfo do filme é que, ao invés de se limitar a criticar os coreanos, ele gasta tanto ou mais tempo debochando dos hábitos e cultura americanos. Toda a indústria da fama e celebridades, o consumo e venda de polêmicas e até as intervenções militares americanas são devidamente massacradas sem dó.

A imbecilidade de Skylark (que fica mais confortável fazendo analogias sobre “O Senhor dos Anéis” do que debatendo política internacional) é o tempero ideal para o filme passar sua mensagem enquanto faz a audiência chorar de rir.

E olha que não faltam situações absurdas para sustentar as risadas. Odiaríamos dar spoilers, mas fique atento para a já antológica sequência em que Skylark e Kim descobrem sua paixão em comum por um famoso hit chiclete das rádios.

O filme só não escapa de entrar para a lista de grandes críticas políticas do cinema porque seu ato final acaba perdendo um pouco a mão e desequilibrando a balança da zoeira, direcionando todos seus tiros para apenas um lado. Frustrante, mas nada que apague o brilho da obra.

A Entrevista pode não ser tão profundo quanto O Grande Ditador de Chaplin ou tão engraçada quanto É o Fim e outros filmes de Rogen e seus amigos, mas ainda é uma comédia da melhor qualidade, capaz de divertir qualquer um com senso de humor e mente aberta. E que não esteja comandando uma ditadura, claro.

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